domingo, 27 de maio de 2007

Mobilidade social? Apenas para eles.

Desde 3 de maio o enfoque das notícias mudaram. Na sua primeira semana, me corrijam os mais atentos se eu estiver errado, a invasão da USP era apenas uma noticia regional secundária, um balburdio qualquer que acabaria e cairia no esquecimento, para que dar importância?

Como é mais do que comum, de acordo com o passar do tempo, a relevância da situação exigiu uma apuração maior. Talvez seja melhor considerar a palavra espetáculo ao invés de apuração. O espetáculo precisava de um enredo.

Irem contra o governador, jamais, não daria o retorno suficiente para o show. Pensaram: “vamos dar trela, e na segunda semana, se nada acabar, jogaremos como mais uma manifestação”. Segunda semana, o enredo foi seguido.
Após, para não ficar tão maçante as cenas, levaremos ao “Zé povinho” a idéia de movimento de uma minoria sem motivos concretos, a não ser chamar atenção, coisa típica de adolescente revoltado vendo muito filme de baixo orçamento... ,eles pensaram. Agiram, e pensei estar já no fim do espetáculo mirabolante! Hoje vi que o roteiro fez sucesso, mas como a maioria das séries de sucesso quando extensa demais perde a graça e a originalidade. Assim espero que aconteça.

A nova temporada dos “Remelentos e Mafaldinhas da USP”, como os autores (créditos no final) definiram o titulo, se trata da parte mais romântica da série. Algo como Batman Begins ou mesmo o último do Super Homem, mais puxados para o sentimento das personagens principais. Os filmes, principalmente no primeiro, tentaram mostrar os motivos psicológicos e sociais das histórias dos heróis.

Vamos aos fatos... Levante o corpo flácido da cama nesse domingo frio, vá até a banca mais próxima de sua residência e rasgue o dinheiro na frente dos olhos do jornaleiro. E não se esqueça de pedir em troca a Veja e o Estado de São Paulo. Economize tempo e não de importância a Folha. Compre as figurinhas do “alienadinho” também, para colar na testa caso sinta prazer na leitura dos contos.

Começaremos pela sinopse, claro!
Abra o Estado de São Paulo da Serra, caderno Aliás, J5., artigo de José de Souza Martins, na qual a foto do coronel abraçando um dos lideres da revolta da USP está embaixo. Além da ilustração, atente a algumas partes do texto.

“Os jovens de classe média que invadiram a reitoria da USP são os novos pobres: de esperança e de boas causas.”

“Aparentemente, preocupados em manter a postura de seletos cidadãos, escolhidos na peneira fina do vestibular, os jovens invasores trataram logo de demonstrar que são filhos-família. Não só bem comportados nas comezinhas obrigações da limpeza, mas também estabelecendo regras que os fazem legítimos descendentes do ordeiro e criativo representante da burguesia americana, Benjamin Franklin. (...)
Um aluno de História levou a própria mãe para inspecionar o recinto em que o filho faz sua estréia como revolucionário (...). Verdadeiros escoteiros de esquerda.”

* Mas e as repetidas fotos do portão da reitoria e de artigos dizendo que a balburdia e a depredação “aniquilaram” a reitoria?

“Embora os estudantes bem comportados se apresentem como apartidários, estão vinculados a facções em conflito com o PT, que romperam com a UNE, que se opõem a atual direção do Diretório Central de Estudantes, a qual contestam e consideram traidora.”

* E o Serra, como fica?

“Trata-se de uma geração órfã, que já não tem grandes batalhas a travar, que padece o problema da falta de um grupo extrafamiliar de referência minimamente estável. Sobra-lhe a universidade, instituição passageira em suas vidas.”

* Não seja por isso! Inscrições abertas para o PCC para você que não tem um grupo social nem batalhas a travar!

“Os operários têm a sua classe como fator de identidade e luta; os camponeses têm suas organizações sindicais e a terra como referencia utópica; a classe média dos docentes tem ainda, felizmente, as grandes causas do ensino e da cultura. Os jovens de classe média não têm nada. Acabam defendendo as causas alheias.”

* Gays lutam por gays, negros por negros, obesos por obesos. Os demais, cada macaco no seu galho! Defender causas alheias seria intromissão. Cada um por si?! Preconceito ou apenas parece?

“No fundo, a rebelião da Cidade Universitária é uma rebelião romântica, cheia de beleza juvenil, infelizmente vazia de conteúdo histórico. “

(continua abaixo.)

Continuação.
Roteiro de leitura: Veja, 30 de maio, página 62, artigo de Gustavo Ioschpe, economista (?).
Titulo: “O deboche dos privilegiados da USP”.
Em destaque: “Se os estudantes uspianos não estão satisfeitos com as medidas implementadas pelos legítimos defensores do poder público, que dialoguem ou peçam transferência para escolas privadas.”

* Eles não estão dialogando? Ou dialogar para esse economista é aceitar, submissão e coisas do tipo?
Se o posto de saúde não tem o remédio para a sua doença terminal, vá trabalhar e ganhar dinheiro para comprar na farmácia, VAGABUNDO! (como diria Kassab).

“Os alunos da USP são os mais afortunados do país. Estudam gratuitamente naquela que provavelmente é a melhor universidade brasileira, mesmo quando oriundos de famílias dotadas de amplíssimas condições de pagar por seus estudos.”

“Não bastasse esse subsidio direto, ainda contarão com as benesses oriundas da posse de um diploma de ensino superior em um país de iletrados.”

“Seria de esperar que os recipientes de tamanhos benefícios se sentissem compungidos a procurar maneiras de retribuir á sociedade pela generosidade dispensada em sua formação intelectual.”

“... a USP não é propriedade dos alunos, nem dos professores, nem dos funcionários: é do povo de São Paulo. Povo esse que elege democraticamente seus representantes para fazer cumprir a sua vontade.”

Agora, na edição da Veja São Paulo, vamos a matéria de capa CAOS NA USP - Como um pequeno bando de estudantes instalou a balbúrdia na maior e mais importante universidade brasileira -.

“Estão brincando com fogo” é o que alerta a reportagem. Destaque da matéria: “Com baderna (?) e reivindicações oportunistas, uma inexpressiva parcela dos 80.600 alunos da USP mancha a imagem da maior e melhor instituição de ensino do país”. Responsáveis pela reportagem: Álvaro Leme, Maria Paola de Salvo e Sandra Soares. A matéria não vale o tempo de ser reproduzida aqui, mas segue a mesma reivindicação da rádio CBN, que cobra medidas do governador para que imponha respeito nesses agitadores da forma que é necessária.

De acordo com o Reinaldo Azevedo (que deu o titulo “Remelentos e Malfadinhas da USP”) “Os paulistas pagam até a comida dos privilegiados” . O mesmo ainda afirma: “Vou aplaudir o Estadão deste domingo, com um cardápio de notícias realmente dos melhores, e também puxar a orelha da edição. Há duas reportagens imperdíveis sobre a USP.”

“A USP se transformou numa espécie de INSS, e os valentes que invadiram a reitoria acham que isso ainda é pouco. Em qualquer universidade do mundo, americana, cubana ou chinesa, o ensino está reservado aos mais aptos”

“Dêem-me uma boa razão para que os paulistas paguem para que uma parcela de privilegiados coma de graça. O que eles devolverão, depois, a esta mesma sociedade?”

Nojento ou não?

(continua...)

(continuação - parte final)

As matérias citadas nos posts acima são o melhor exemplo de mídia oportunista, e claro, contraditória.
Não me julgue, se você leu e concordou com as palavras ditas por eles tudo bem. Eu concordaria até pouco tempo atrás também. Mas passei a observar melhor as situações, e aqui descrevo o meu ponto de vista. E não sou hipócrita, para ter essa minha opinião tive de ler (e reproduzi!) esses textos do qual sou contrário, porém deixo explicito minha opinião sem nenhuma ofensa pessoal ou idealista. Cada qual na sua, afinal um depende do outro. Eu dependo deles para discordar e vice-versa.

Segundo os textos publicados aqui (e os demais em circulação na mídia), mostro como uma idéia é mobilizada. Querem, sem duvida alguma, caracterizar os ocupantes da USP como filhos da classe média, sem futuro e sem alguma ideologia. Mas o que mais me incomoda são os julgamentos contraditórios de que os estudantes da universidade pública são privilegiados, como se fossem algum tipo de oportunistas roubando o lugar de outras pessoas. E ainda por cima afirmam que “cavalo dado não se olha os dentes”.

Todo estudante da USP paga impostos, da mesma forma que o resto da população. Para estarem lá, passam pelo mais disputado vestibular do país. Conseqüentemente, só os mais preparados são aprovados. Os textos os culpam por serem preparados e por terem condições de se preparar!

Porque ao invés de julgar erroneamente esse caso, os tais “jornalistas” não cobram do governo um ensino público melhor? Para que os adolescentes vindos da educação pública tenham as mesmas chances que os da rede privada? Ou será que o próximo artigo deles será impondo que não sirvam mais merendas nas escolas públicas, afinal, “o que essas crianças darão de retorno?”, ou a favor de deixar idosos morrendo na fila do SUS, “afinal, o que esses idosos darão de retorno para a população?” ou que “eles só querem remédio de graça!”.

A população carente, da rede publica de ensino, não tem chances no vestibular da USP, salvo alguns casos. Logo que terminam o colégio (e se não o abandonaram antes já é uma grande coisa) vão a procura de trabalho, e são submetidos a profissões como telemarketing, que aprisiona o jovem, pois um dos requisitos é a mobilidade de horário, portanto ele não pode estar estudando, e ainda vive uma rotina estressante, em rotinas 5x1 em troca de um misero salário. Mas, é a única oportunidade disponível para pessoas jovens, sem experiência e pobres.
Pergunto quem são os oportunistas da história...


sábado, 26 de maio de 2007

Os Remelentos e as Mafaldinhas ?

Estudei em escola classe média suburbana de São Paulo. Moro em uma ilha, dessas milhares que começaram a expandir a cidade, denominados condomínios fechados, em todos os sentidos. Fica aqui no começo da rodovia que liga a capital ao interior, mas não é periferia ainda, senão quem compraria um “sobradinho na perifa!”. A periferia é daqui pra lá. Quer dizer, agora daqui, passando pelo próximo condomínio, então ai fica a periferia, até hoje, que eu saiba.
A tal escola era de um lado, do oposto ficava a municipal, para atender os filhos das domésticas da “tão distante” periferia que trabalhavam diariamente aqui na região.

O “bairro” foi projetado pelo tal grupo “city”, empresa estrangeira (não lembro da onde) que construiu bairros planejados em São Paulo, todos com a mesma característica geral e um detalhe especial para cada um, com referencias a uma cidade do mundo (no caso da minha, Toronto, com direito até a aquelas árvores do Canadá) e geralmente em formato circular, isolando o resto do bairro. No mapa, no registro, CEP e afins, a área toda é definida como cafundó do Judas, mas a estrutura do átomo é definida pela relação entre elétrons e prótons.
Nunca fui um aluno exemplar, não era deixado de lado na educação física, jogava bem futebol, mas como era gordo o cansaço me vencia. Nunca fui popular, mas era o engraçado. Passei por tudo e um pouco mais que os adolescentes caipiras-urbanos-alienados vivem.

Filho único, saia da escola, chegava em casa, almoçava com a minha mãe, pegava um pacote de bolacha e subia para o quarto. Assistia Chaves e Ra Tim Bum. Dizem que quando eu era mais novo eu gostava da Xuxa, vai saber. Até hoje afirmam coisas que não lembro que fiz, nem ao menos as de ontem.
Uma das minhas únicas e maiores companhias no pós escola era o meu avô espanholão, que me acompanhava na frente da televisão.
Não era uma vida diferente das que eu conhecia.

Cinco coisas me chamaram atenção quando eu era criança/adolescente na escola, meu maior convívio com o mundo não tão exterior. A primeira foi quando, na quinta série, um professor foi despedido por ensinar os alunos da sexta série a evitar a AIDS. A escola era católica fervorosa. Outra era o medo que impunham nas crianças sobre as outras crianças da escola municipal- como quase 90% dos alunos da minha escola moravam nas proximidades, muitos iam a pé para casa, e no caminho eram obrigados (inclusive e talvez principalmente eu) a passar pela escola municipal-. A diretoria da minha escola mandou avisos aos pais, alertando os a irem buscar os filhos, mesmo que sua casa seja a duas quadras da escola, ou que se não fosse possível, contratar um serviço de transporte escolar. Todas as mães, claro, ficaram assustadas com os “monstros” que seus filhos poderiam encontrar no caminho, dessa raça da periferia como chamavam. Os mais destemidos rumavam em grupos para suas determinadas casas, tampando com uma bolsa ou blusa o símbolo do colégio. Nunca houve nada, apenas boatos, e isso acabou criando uma rivalidade, antes inexistente, entre as duas escolas. Quem saiu no lucro foi o “tio da perua”, familiar da diretora da escola. As outras três coisas que me chamaram atenção foram as seguintes: existia apenas um negro no colégio, usava black power e vinha da periferia, claro que era excluído. Tornou-se meu melhor amigo da época. Outra era o comentário que ouvíamos sobre uma professora de historia socialista, que na nossa visão precária era vista na verdade como nazista, o que nos causava pavor. E a outra foi que a professora mais conceituada da escola, na época do vestibular, nos aconselhou a dar preferência pelas páginas amarelas da Veja e fazia incessantes comentários sobre o jeito de segurar o garfo do Lula.

Como era de se esperar, todos os meus amiguinhos tiveram o mesmo destino. Menos o do black power que sumiu do mapa, e eu que larguei tudo pelo caminho. Segui os mesmos passos, fui ser arquiteto. O que era eu não sabia, só sabia que meu pai achava bonito e que tinha a piada do “não tão macho para ser engenheiro nem tão viado pra ser decorador”. Uma das faculdades mais caras! Tinha carrinho na mão, e até fiz uns projetos bacanas. Mas o tal mundo acadêmico que eu esperava não estava ali. Plumas. Isso mesmo, plumas! Aqueles corredores eram mais passarelas do que outra coisa. Sempre trabalhei no comércio do meu pai, mas nesse tempo fui trabalhar para uma produtora de filmes pornôs, catalogar os produtos na Internet e cuidar da parte do design dos sites. Durou uns meses.
Não fui para ver mulher pelada todo dia ou ganhar dinheiro, fui para sair um pouco da dependência do meu pai.

Revirei minha vida, larguei a faculdade, o trampo, o trabalho com meu pai, o que praticamente me causou algo digno de “excomunhão” familiar. Troquei os costumes vazios que me faziam mal por um ano de estudos e me dediquei a um trabalho voluntário com crianças, que contarei mais adiante.
Decidi que serei jornalista. Hoje não tenho mais carrinho, madrugo as quatro da manhã e chego em casa meia noite, mas no lugar da vida pomposa eu ganhei respeito. :-)

Esse texto de inicio tinha um objetivo, mas me perdi no meio das palavras. Uma coisa se ligou a outra, não vou reler, não vou corrigir, desabafar em texto e publicar para desconhecidos foi uma boa experiência.

O objetivo desse texto era político, acabou virando pessoal e intimo, na verdade, o ideal para um post de inicio.

Gostaria de mostrar minha opinião sobre a ocupação da USP.
Ia detalhar meu ódio contra a mídia golpista, ia defender os protestantes, ia contar sobre meu ponto de vista de um ex-alienado...

Deixo registrado um abraço para o André Lux e o Eduardo Guimarães (links ao lado), blogueiros que acompanho há um tempo, que me fizeram ver os dois lados da moeda. Me fizeram crescer! E ao Reinaldo Azevedo por me causar o ódio que motivou a escrita desse post, que se perdeu... :-)

Agora vou me atirar nos filmes de sábado, um dos meus programas prediletos...

quinta-feira, 24 de maio de 2007

Numa época não tão distante...

Acordei nostalgico. Ótima época que eu jogava Ultima Online e ouvia Bad Religion. Vivi bem essa parte da adolescencia, não tão longe assim... mas o que mais me surpreende hoje é que eu sabia que era feliz, só não sabia que iria passar tão rapido... fazem parte das poucas boas memórias. Hoje vou ficar assim, como museu.

sexta-feira, 18 de maio de 2007

quinta-feira, 17 de maio de 2007